Qual a pertinência da repetição no quotidiano? Qual a sua relação com o tempo?
Através da análise de obras de Jacques Derrida, Jean-Marie Pontévia, Nietzsche e Bela Tarr, a rotina (enquanto expressão quotidiana da repetição) é entendida como eterno retorno e base estruturante da vida.
O presente que não se apresenta simplesmente – sendo intangível como a identidade – actualiza-se constantemente e alarga-se sem fronteiras definidas. Nele somos rastro do que fomos e somos a expectativa de para onde nos dirigimos, porque vivemos no amanhã e no ontem, sendo que o tempo é também (e principalmente) percepção mental.
A repetição enquanto acção – cria, ensina, dirige, organiza e permite saber que somos, identificar signos e pensar, construir a representação do mundo sendo, deste modo, a possibilidade da arte. Ela permite recordar, representar e re-apresentar, recriando o visível. Assim, é fonte criadora, é a certeza de que o que foi também será – é devir porque, sendo o igual retornado, é irrepetível, como cada dia, cada rotina ou cada pensamento.